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sábado, 8 de maio de 2010

O Choro

Normalmente não gosto de programa de opinião, mas tem um em especial que eu acho uma droga: o ‘Viva Fortaleza’ da TV ‘O Povo’. Na verdade o programa também trata de cultura, lazer, etc.. Mas na bendita quarta-feira tem uma roda de mulheres debatendo sobre temas aleatórios, meu, só se ouve besteira. Ficam umas 5 mulheres com toda a pose e uma conversinha de salão de beleza.



Eu me incomodo porque eu acho que os temas abordados podem gerar uma discussão bacana e fica uma querendo aparecer mais que a outra. Tem a que ser a intelectual, a descolada, a sensível, a loucona; e a conversa acaba que não serve de nada para o mundo prático, fica só naquele mundinho idealizado.


Dia desses estavam falando de ‘mudança’ aí a criatura fala que detesta mudar: vai aos mesmos lugares, pede sempre a mesma comida.. -Bom, no meu entendimento o nome disso é TOC, mas vamos adiante.- Já a outra disse que está sempre mudando o cabelo, o caminho de voltar pra casa... -???- Enfim, mudar não é ter um cara que gosta de rock e troca por sertanejo –até porque isso nunca vai acontecer!- é o cara abandonar tudo e correr atrás do seu sonho, é partir conscientemente para outra realidade.


Essa semana elas estavam falando por chorar, evidentemente elas falaram um monte de bobagem, mas eu fiquei de quarta pra cá pensando na minha relação com o choro. O início da minha adolescência foi uma fase bem chorosa pra mim. Não pelo estigma de ser adolescente, mas dos meus 11 até uns 15 eu fui começando a ter consciência de como o mundo é cruel (principalmente as pessoas), um dia ainda escrevo sobre isso. As pessoas que conheci foram fundamentais para o que sou hoje, mas elas nunca teriam entrado na minha vida se eu não soubesse desde os 11 que eu não queria ser igual à maioria.


Chorei muito até uns 15/16 anos sozinha. Depois eu fui cultivando as minhas primeiras amizades e o fardo foi ficando mais leve e eu passe a chorar menos. Ter uma pessoa com quem você possa conversar faz toda a diferença. Não tenho mais contato com meu primeiro amigo desde que deixei o colégio, mas ainda tenho o mesmo carinho por ele.


Chorar por paixões é típico. Aí você conhece alguém por quem sofre horrores, depois termina e no lugar do coração fica um bloco de gelo. Mas é igual a vulcão: quando você acha que já está inativo pra sempre, começa tudo de novo.


Um dos amigos com quem eu mais aprendi falou que só se conhece um homem quando ele chora na sua frente porque assim ele fica completamente desarmado. Um tempo depois ele chorou no meu ombro e depois disso eu fiquei com aquela sensação que eu tinha um amigo pro resto da vida. Pode-se dizer, então, que o que ele falou é verdade.


Choro fácil, fácil vendo os outros chorarem. Se for um momento em que eu tenha que passar força pra alguém eu tento disfarçar. Mas se for algo emocionante deixo as lágrimas escorrerem.


Também choro com uma música bonita (como a última que eu postei); com livro (já chorei várias vezes com o ‘Clarice,’ que estou lendo atualmente); com filme (quase me acabo de chorar com a despedida entre o Carol e o Max de ‘Onde vivem os monstros’); com as vitórias dos meus amigos; com as alegrias; com os sorrisos; surpresas boas; palavras carinhosas.


Agora não consigo chorar em brigas, bate boca, momentos tensos... Fico extremamente séria e mesmo que a outra pessoa com quem eu esteja discutindo chore, não consigo derramar uma lágrima e acaba parecendo que eu sou uma pessoa fria. Difícilmente eu choro se me acontece algo ruim, se estou num mau momento. Não sou insegura e nem lembro de ter chorado por nervosismo, mas no ano passado isso me aconteceu duas vezes quando estudava para o concurso. Em geral não costumo me abalar em situações assim.
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O passar dos anos fez com que eu me tornasse um pouco mais sentimental com o mundo e muito menos comigo mesma. Não sei explicar essa frase que acabei de escrever, mas é como se eu aceitasse o que acontece comigo e não o que acontece com os outros.
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No debate do programa uma menina, que eu considero a mais boba de todas, falou uma coisa que achei interessante: "Chorar é uma forma de ser honesto consigo mesmo". Achei isso legal. Pena que as pessoas não sejam honestas; chorar não é desequilíbrio ou fraqueza, é um momento de transcender.


Vou terminando por aqui que já chorei umas três vezes escrevendo isso e me lembrando dos momentos que passei. E se não for pedir muito, chorar só por coisas boas (ouviu Alce)!
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3 comentários:

Tilso disse...

"Chorar é uma forma de ser honesto consigo mesmo"

Como é bom poder partilhar de suas palavras... Que saudade do ombro amigo onde podia chorar. Hoje, diante do medo de fracassar, não consigo mais chorar...

Manu e Tilso disse...

Oi Amanda, o comentário acima, philos sophos, é meu (tilso). bjs...

Amanda disse...

O ombro amigo continua a postos sempre que precisar!