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sábado, 7 de março de 2009

Violência

Um dos assuntos que mais repercutiu até agora, este ano, foi o caso da interrupção da gravidez de uma menina de 9 anos. Vejam bem: a manchete é a respeito do aborto, e não do que essa criança passou para chegar a esse ponto. Eu me sinto completamente ofendida como ser humano, como pessoa cívica e como mulher. A história de um drama virou joguete da Igreja Católica.

Em primeiro lugar, não me defino como católica, protestante, espírita ou qualquer forma de religião. Sou batizada no catolicismo, mas entrei em conflito com a religião faz tempo. Tenho fé, não religião. E, de acordo com o que eu acredito hoje, acho a postura da Igreja Católica de uma hipocrisia sem tamanho.

Não dá mais para aceitar, em pleno século XXI, que a homossexualidade seja tratada como doença. Um pastor-vereador do Rio de Janeiro chegou a apresentar um projeto para que os jovens que queiram “curar-se” da homossexualidade tenham “tratamento” garantido pelos órgãos públicos. A Sociedade Brasileira de Psicologia ficou estarrecida e desaprovou o ingresso dos seus profissionais nesse programa. Já está na hora de as pessoas se informarem e deixar de lado aquela visão pejorativa e anormal do homossexual: conheço vários, tantos homens, quanto mulheres, que são pessoas maravilhosas e inteligentes. E eu apoio a causa mesmo, são pessoas que merecem respeito.

Outra polêmica é quanto ao não-uso da camisinha e o sexo para fins reprodutivos. Não deveria nem perder meu tempo comentando isso, depois de tanto estudar Schopenhauer, de ler sobre Foucault e Freud posso dizer que fazer sexo é tão natural quanto beber água (só que é beeem melhor). O risco de contrair alguma doença já coloca a camisinha como utilidade pública.

O tema da Campanha da Fraternidade ano passado foi: Escolhe pois a vida. Tratava de toda essa polêmica do aborto e métodos contraceptivos. Lembro que no início do ano passado comentei com a Dayane sobre a campanha porque precisaria falar dela e eu não era engajada com a Igreja; ela me contou que era a respeito de tudo que eu era contrária. Bem, na verdade eu também sou contrária à banalização da vida. Porém sou categoricamente pró integridade física e emocional da mulher. E essa integridade é garantida por lei em: risco de morte da mãe, a não-sobrevida do feto e vítimas de estupro estão juridicamente no direito de intervir na gravidez. Dentro destas três situações eu não afirmo que a mulher tenha que abortar, mas afirmo que ela tenha direito a prosseguir ou não com a gravidez. É uma decisão que cabe a cada caso específico, mas que uma vez tomada será assistida e garantida a sua integridade.

Voltando ao caso, tratava-se de uma criança de 9 anos. Ela estava sendo violentada desde os 6 pelo padrasto, e o agressor também admitiu a violência contra a sua irmã mais velha de 14 anos. Só de olhar para qualquer criança com essa idade a gente percebe que não há a menor estrutura para se prosseguir nessa gravidez. Em se tratando de gêmeos, como no caso, potencializam-se os riscos sobre a mãe. A menina foi violentada, tinha 9 anos e 2 fetos e decidiu-se (a mãe, no caso) pela interrupção da gravidez. A menina seria encaminhada a um serviço de atenção às mulheres violentadas e o padrasto-agressor foi preso.

Não bastasse passar por todo esse drama, surge polêmica ainda maior vinda por parte da Igreja Católica. O arcebispo de Olinda, dom José Cardoso Sobrinho diante do crime hediondo (aqui estamos falando do aborto) resolveu por excomungar a menina, toda a equipe médica e todos os envolvidos no procedimento. Além de ofendida pelo que aconteceu, eu me sinto idiotizada (se é que existe essa palavra) pela Igreja Católica. Um arcebispo não sei de onde, e agora toda a cúpula Católica, se prestam a argumentar o inargumentável. A mesma Igreja Católica que gastou fortunas com indenizações a crianças também violentadas.

Acho interessante que nem eu, nem ninguém de nós que escolheu algum deles para nos representar. E isso faz com que toda essa hipocrisia da Igreja perdure, porque se o povo estivesse agindo diretamente, isso seria bem diferente. Dias atrás um bispo inglês (que servia na Argentina) deu uma declaração que na Segunda Guerra Mundial, não havia câmaras de gás e nem foram tantos os judeus que morreram. Isso foi um rebuliço tão grande que a sociedade (por conseqüência fez com que a Igreja) o obrigar a retratar-se. Faço minhas as palavras da Dayane: “o problema não é dos fiéis, mas sim da cúpula da Igreja”.

Quanto ao padrasto, o agressor: ele rezou uns 5 pais-nosso, umas 5 ave-marias e está perdoado...

Amém

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